Dialogar
é preciso...
Julio Guedes
Toda a teoria de Paulo
Freire é baseada no diálogo. O problema aqui é que a maioria das
pessoas se sentem mais poderosas no monólogo. E principalmente
quando o monólogo é repetido sem críticas e interrogações.
Eu mesmo tenho grandes
interrogações sobre muita coisa. Eu sei que nosso país está
atrasado décadas (quem sabe meio século)no que diz respeito a
Educação. Nossos índices na Educação são um dos piores da
América Latina. E infelizmente não mudaremos isso da noite para o
dia, e muito menos buscando caminhos que ainda precisam passar por
grandes melhoras em sua eficiência e qualidade.
Os elementos que Paulo
Freire colocar como fortalecedores do diálogo entre professores e
alunos: Amor, Humildade, Fé nos Homens, Esperança e um Pensar
crítico.
Para Paulo Freire, o amor é
uma forma de se colocar diante do aluno (algo muito discutido por
Wallon do efeito da afetividade sobre a aprendizagem), e dessa forma
mostrar que realmente se preocupa ou gosta do aluno. Essa disposição
afetiva aberta é importante para acontecer a aproximação do aluno
com o professor. Na minha prática, eu sempre tenho uma postura menos
formal, para que os alunos não se sinta intimidado por mim (e minha
cara de mal). Sempre estou mostrando meus sentimentos através do
diálogo (mesmo que esses sentimentos não seja positivos).
Um exemplo de amor (segundo
Paulo Freire) eu diria que nas situações que os alunos buscam uma
escuta, sabendo de minha graduação em psicologia, muitos alunos
acabam buscando conversar comigo assuntos que estão além dos
conteúdos curriculares da disciplina que estou ministrando. Eu
sempre acabo depois da aula, conversando e interagindo com eles, e
acredito que isso aproxima muito e por vezes, muito rapidamente os
alunos de mim. Ouvir essas pessoas, para mim, é um ato de amor que
ajuda muito na parte do ensino.
Humildade para Paulo Freire
seria o professor sair do pedestal e estar no mesmo nível do aluno.
Numa posição de aprendizado. Isso implica dizer que o professor
deve estar nesse estado mais receptivo.
Como viajar para o interior
do Ceará sempre temos algo para aprender sobre o lugar ou sobre as
pessoas do lugar. Mesmo eu tendo nascido no interior do Ceará, me
pego aprendendo mais sobre as expressões linguísticas, costumes e
etc.
Em Russas, foi uma
experiência muito boa, onde pude estar próxima de pessoas que
tiveram muito a me ensinar. Onde os diálogos foram ricos em
aprendizagem. Foi em Russas que eles me ensinaram o sentido da
palavra: “embarreirar”.
A Fé nos Homens para Paulo
Freire é acreditar na capacidade de aprender de cada um. E nesse
ponto, estimular o outro a se colocar criticamente sobre os assuntos.
Eu vejo que o sentimento que impede que os alunos falem o que pensam
é o sentimento de medo. Medo de desagradar o professor, medo de
irritar e por consequência acabar se dando mal na disciplina
ministrada pelo professor.
Em Russas, eu estava
falando sobre Educação Inclusiva e alguns alunos se sentiram mais
aliviados quando puderam falar para mim que não acreditavam na atual
política de educação inclusiva... Eu percebi que havia medo deles
exporem a opinião sobre o assunto. Todos ficaram mais aliviados
quando eu disse que também não acreditava.
A Esperança para Paulo
Freire é a capacidade de criar e de recriar. O desejo de ampliar
seus conhecimentos. É o desejo de se reinventar. E reinventar suas
práticas pedagógicas (visto que eu estava dando aula para
professores da rede de ensino de Russas).
Lembro que tinha um
professor da rede pública de Russas que era meu aluno de EaD que
refez sua prática pedagógica com um aluno autista devido aos
conselhos e orientações que dei em nossos diálogos dentro de sala
de aula. Isso para mim, foi um exemplo, pois eu em nenhum momento
disse para ele que ele deveria mudar sua prática pedagógica ou
exigi isso dele. A iniciativa foi dele.
O “Pensar de forma
crítica” de Paulo Freire é o pilar principal, onde leva o aluno a
refletir sobre sua realidade e pensar sobre a construção de uma
nova realidade sem ter uma visão clara e crítica da realidade que
se encontra e como ela se formou. Olhar para o presente, e caminhar
para um futuro diferente.
Acredito que os professores
(meus alunos de EaD de Russas) fizeram uma crítica sobre como estava
acontecendo as práticas pedagógicas com os alunos com necessidades
pedagógicas especiais. Perceberam as dificuldades e os erros
cometidos, e dentro das possibilidades deles, alguma coisa mudou.
Pelo menos naquilo que dependiam apenas deles mudar.
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