segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dialogar é preciso...
Julio Guedes

Toda a teoria de Paulo Freire é baseada no diálogo. O problema aqui é que a maioria das pessoas se sentem mais poderosas no monólogo. E principalmente quando o monólogo é repetido sem críticas e interrogações.
Eu mesmo tenho grandes interrogações sobre muita coisa. Eu sei que nosso país está atrasado décadas (quem sabe meio século)no que diz respeito a Educação. Nossos índices na Educação são um dos piores da América Latina. E infelizmente não mudaremos isso da noite para o dia, e muito menos buscando caminhos que ainda precisam passar por grandes melhoras em sua eficiência e qualidade.
Os elementos que Paulo Freire colocar como fortalecedores do diálogo entre professores e alunos: Amor, Humildade, Fé nos Homens, Esperança e um Pensar crítico.
Para Paulo Freire, o amor é uma forma de se colocar diante do aluno (algo muito discutido por Wallon do efeito da afetividade sobre a aprendizagem), e dessa forma mostrar que realmente se preocupa ou gosta do aluno. Essa disposição afetiva aberta é importante para acontecer a aproximação do aluno com o professor. Na minha prática, eu sempre tenho uma postura menos formal, para que os alunos não se sinta intimidado por mim (e minha cara de mal). Sempre estou mostrando meus sentimentos através do diálogo (mesmo que esses sentimentos não seja positivos).
Um exemplo de amor (segundo Paulo Freire) eu diria que nas situações que os alunos buscam uma escuta, sabendo de minha graduação em psicologia, muitos alunos acabam buscando conversar comigo assuntos que estão além dos conteúdos curriculares da disciplina que estou ministrando. Eu sempre acabo depois da aula, conversando e interagindo com eles, e acredito que isso aproxima muito e por vezes, muito rapidamente os alunos de mim. Ouvir essas pessoas, para mim, é um ato de amor que ajuda muito na parte do ensino.
Humildade para Paulo Freire seria o professor sair do pedestal e estar no mesmo nível do aluno. Numa posição de aprendizado. Isso implica dizer que o professor deve estar nesse estado mais receptivo.
Como viajar para o interior do Ceará sempre temos algo para aprender sobre o lugar ou sobre as pessoas do lugar. Mesmo eu tendo nascido no interior do Ceará, me pego aprendendo mais sobre as expressões linguísticas, costumes e etc.
Em Russas, foi uma experiência muito boa, onde pude estar próxima de pessoas que tiveram muito a me ensinar. Onde os diálogos foram ricos em aprendizagem. Foi em Russas que eles me ensinaram o sentido da palavra: “embarreirar”.
A Fé nos Homens para Paulo Freire é acreditar na capacidade de aprender de cada um. E nesse ponto, estimular o outro a se colocar criticamente sobre os assuntos. Eu vejo que o sentimento que impede que os alunos falem o que pensam é o sentimento de medo. Medo de desagradar o professor, medo de irritar e por consequência acabar se dando mal na disciplina ministrada pelo professor.
Em Russas, eu estava falando sobre Educação Inclusiva e alguns alunos se sentiram mais aliviados quando puderam falar para mim que não acreditavam na atual política de educação inclusiva... Eu percebi que havia medo deles exporem a opinião sobre o assunto. Todos ficaram mais aliviados quando eu disse que também não acreditava.
A Esperança para Paulo Freire é a capacidade de criar e de recriar. O desejo de ampliar seus conhecimentos. É o desejo de se reinventar. E reinventar suas práticas pedagógicas (visto que eu estava dando aula para professores da rede de ensino de Russas).
Lembro que tinha um professor da rede pública de Russas que era meu aluno de EaD que refez sua prática pedagógica com um aluno autista devido aos conselhos e orientações que dei em nossos diálogos dentro de sala de aula. Isso para mim, foi um exemplo, pois eu em nenhum momento disse para ele que ele deveria mudar sua prática pedagógica ou exigi isso dele. A iniciativa foi dele.
O “Pensar de forma crítica” de Paulo Freire é o pilar principal, onde leva o aluno a refletir sobre sua realidade e pensar sobre a construção de uma nova realidade sem ter uma visão clara e crítica da realidade que se encontra e como ela se formou. Olhar para o presente, e caminhar para um futuro diferente.
Acredito que os professores (meus alunos de EaD de Russas) fizeram uma crítica sobre como estava acontecendo as práticas pedagógicas com os alunos com necessidades pedagógicas especiais. Perceberam as dificuldades e os erros cometidos, e dentro das possibilidades deles, alguma coisa mudou. Pelo menos naquilo que dependiam apenas deles mudar.


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